Matraca / Isabel Série

Matraca é um romance amparado em pesquisas feitas pela jornalista Isabel Série,  que na linha de frente da reportagem cobriu rebeliões em presídios, fuga e recaptura de presos, julgamentos do Tribunal do Júri, audiências, entrevistou vítimas, familiares e sentenciados.
Primeiro livro de ficção da autora, Matraca conta a história de um homem preso injustamente e de seu périplo pelos labirintos do sistema penal e carcerário. Neste romance, ele é chamado de Ente Querido, sem nome ou identidade, apenas mais um.
Ao mesmo tempo, o livro narra a saga cotidiana e incansável de uma mulher que nunca o abandona e faz tudo para conseguir libertá-lo ou ao menos proporcionar alguma atenção, conforto e segurança, como no empenho para entender as regras impostas ou na comezinha definição do tamanho permitido do pote de marmita levada pela família, ou ainda na busca por um advogado criminalista.
São os pensamentos e os afetos da personagem feminina que organizam a história. Como apoio pessoal e espécie de leitura de cabeceira, ela sempre consulta a Gramática de Usos do Português. Para ela, é um livro de adivinhações, um tarô, um oráculo que a guia na escuridão dos atos e na conduta de quem se perdido nos meandros do sistema penal brasileiro. E as regras da língua, expostas em exemplos da gramática, ganham para ela uma conotação diferente, espelhando a realidade vivida ou dando materialidade  às reflexões da personagem.
O título alude à matraca que, nos ritos da Igreja Católica, substitui os sinos durante a Semana Santa e abre as procissões. Mas para os detentos, a matraca representa a liberdade: é o som da prancheta de madeira que o carcereiro bate contra as grades de ferro quando passa pelas celas para ir buscar um preso que obteve soltura.
Matraca é o nono título da coleção Valsa de Esquina de literatura brasileira contemporânea. O livro foi contemplado pelo ProAC 33/2018. Ao final do livro, a autora colige alguns casos públicos de erros da Justiça, com personagens reais, pessoas inocentes que foram presas e passaram anos na cadeia, muitas delas sem julgamento.