A linha augusta do campo / Sidnei Xavier dos Santos
A linha augusta do campo é uma novela sobre as relações intensas que se estabelecem entre pai e filho, mediadas por temas como o futebol, o trabalho, a literatura e as memórias familiares. No livro, quem narra não é quem vivenciou os fatos, mas quem os ouviu e os transformou em relato.
Narrado em primeira pessoa, o texto parte de uma antiga foto em que se encontram pai e filho para desdobrar recordações importantes da juventude, ligadas ao clube do coração de ambos.
A partir daí, a narrativa vai se adensando, ao acrescentar lembranças do pai sobre o seu próprio pai, isto é, sobre o avô do narrador. Esse recurso narrativo torna mais rica e complexa as relações entre verdade e criação, entre biografia e ficção.
Assim, a novela parte de vínculos entre os personagens para compor um mosaico de memórias que une as diferenças da linhagem paterna do narrador. Sobressaem as lembranças ligadas ao futebol, ao mundo do trabalho (e aos últimos momentos do pai na fábrica, antes de ser dispensado), às relações conjugais e aos rituais familiares das gerações anteriores.
A escrita do autor aos poucos se revela uma meditação sobre o impulso criador, na literatura e na arte, tomando metáforas do futebol, da arte e da fotografia para traduzir os sentimentos ligados aos enigmas e afetos familiares, à admiração paterna, ao evelhecimento e, afinal, ao adoecimento e à perda.
O resultado é um relato emocionado e vertiginoso, narrado de um só fôlego, com frases que se alongam e adiam a pontuação, sugerindo uma urgência e um envolvimento intenso com a arte da memória e da narrativa. O estilo da prosa é o de um discurso entre o filosófico e o poético, que se volta para si mesmo e se equilibra e se condensa, mas em certos momentos explode como um grito de gol ou um flash fotográfico, de forma a iluminar as passagens mais significativas de uma existência.
O livro conta com 16 imagens do fotógrafo Cídio Martins, da série “Natureza-morta”. São fotografias em preto e branco que lembram, pela textura e pela composição abstrata, a estética da gravura em metal. O tema das imagens é análogo ao da narrativa: as relações etnre as linhas e o espaço, a tensão entre o retrato e o movimento, entre perfil e trajetória, associações entre o futebol, as artes plásticas e o campo de percepção da realidade.
Sidnei Xavier dos Santos nasceu em 1973, em São Paulo. Estudou Letras na USP, onde fez doutorado sobre os contos de Machado de Assis, Raul Pompeia e Lúcio de Mendonça. Em 1998 publicou seu primeiro livro de poemas, Radares da tarde, pelo selo Badaró, cooperativa que publicou livros de jovens autores da USP. Publicou de forma independente Quando as deusas eram nuas (2010), A fábrica de aparências (2012) e O livro de J. (2015). É professor de Literatura no Ensino Médio. De sua autoria a Quelônio lançou em 2017 o livro de poemas Adão desdenha o Paraíso (Prêmio Nascente 2016).
Cídio Martins nasceu em 1972, em São Paulo. Estudou Letras na USP, e dedica-se a fotografia como exercício de expressão visual desde 1992. Como poeta publicou pelo selo Badaró o livro Do não entendimento do mundo em 1997. Nos últimos vinte anos dedicou-se a preservação e pesquisa em acervos fotográficos museológicos e a produção e montagem de exposições. Com seu trabalho visual, participou de várias exibições tendo alguns de seus ensaios publicados em revistas, catálogos e livros.
A linha augusta do campo
Sidnei Xavier dos Santos
Gênero: Ficção (Novela)
Imagens: Cídio Martins
Capa e projeto gráfico: Sílvia Nastari
Posfácio: Rafael Vogt Maia Rosa
Texto de orelha: Natalia Timerman
Editora Quelônio
ISBN: 978-65-87790-07-7
Páginas: 96 pp.
Formato: R$ 12,5 x 20 cm